Disciplina
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PSICODIAGNÓSTICO
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Autor(es)
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Silvia Ancora Lopez
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Título
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Psicodiagnóstico Interventivo: Evolução de uma prática.
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Capítulo III
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O Psicodiagnóstico Interventivo Sob o Enfoque da Narrativa
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1)
Definições
a)
Psicodiagnóstico tratado sob o enfoque do discurso, mais especificamente da narrativa.
b)
Discurso:
associa-se a expor com método, raciocinar, discorrer, dar largas explicações, discutir. O resultado
de um processo de raciocínio sobre o
que já está delimitado, esperando o momento de exposição pela fala.
c)
A construção e a descoberta do inesperado surgem no discurso, criam-se
significados, a palavra revela seu
poder.
d)
Benjamin (1936) trata uma das formas possíveis
de discurso: a narrativa.
e)
Narrativa:
forma de comunicação florescente no
mundo artesão de outrora, o que
importava era o próprio relato das circunstâncias da experiência vivida.
i. Foi
substituída, gradualmente por outro tipo de comunicação: a informação.
Narrativa
·
Relato da experiência vivida;
·
É um trabalho artesanal;
·
Aberta, liberdade ao leitor para interpretar a
história contada.
·
Sem compromisso com a verdade ou fatos;
·
Florescentes no mundo artesão.
Informação
·
Destituída da experiência vivida;
·
Precisa ser suficiente em si;
·
Plausível e passível de verificação;
·
Compromisso com a verdade factual e objetiva.
·
Submete-se a organização da vida moderna.
f)
Para Benjamin (1936) a pobreza da comunicação
que se evidencia na sociedade da informação aproxima-se do empobrecimento da
própria experiência humana.
2)
Psicodiagnóstico
Interventivo a luz de Benjamin (1936):
a)
Os pais ao falar de seus filhos não estão apenas
dando informações, antes de tudo, estão, narrando uma história cheia de experiências.
b)
Mostram
a maneira de significar os fatos, seu olhar sobre eles, a maneira como se sentem impactados.
c)
Se o
ouvinte estiver disponível à escuta sentirá
que a narrativa toca sua própria
existência.
d)
Não é um mero processo de investigação, mas uma
aventura dinâmica de construção artesanal, realizada a várias mãos: do psicólogo, das crianças, dos pais e das demais pessoas
envolvidas neste processo.
e)
O homem não é um objeto a ser esmiuçado com
lentes investigativas, mas alguém que participa conosco de um processo dinâmico de descoberta e construção.
f)
Processo
vai-e-vem:
i. Semelhante
ao artesão que modela sua escultura;
ii. Os
pais ao narrarem suas histórias, dando-lhes forma, impactam nossas
experiências, e isto, ajuda a compreendê-los;
iii. O que dizemos aos pais também os afeta,
continuando a modelagem.
3) Pressupostos de Husserl – Consciência Intencional:
a)
Aquilo que é contado não deve ser entendido como
uma verdade no sentido objetivo;
b)
Dá-se em uma consciência atribuidora de significados;
c)
Aquilo que é contado, o que é vivido pelos pais, é a sua verdade.
d)
A história contada é uma narrativa, ela é aberta a novos significados, que surgem, no próprio processo de narrar e
origina-se na experiência vivida.
4) Espaço
do Psicodiagnóstico Interventivo: possibilita mudanças, na medida em que
algo pode ser experienciado e falado, uma transformação ocorre, não
meramente cognitiva, intelectual, mas existencial,
modifica-se o posicionamento, a forma de ser pessoa.
a)
Falar e
pensar são indissociáveis: através da fala que o pensamento se cumpre e as
significações se dão. A fala é manifestar e desdobrar do ser. A narrativa dos pais é, pois, um movimento existencial.
i. Toda
fala tem um caráter inaugural, pois, novos sentidos são acrescentados as
palavras existentes.
ii. Mesmo
com um significado compartilhado em determinada cultura, as palavras mudam de
significado ao longo do tempo.
iii. Compreender as significações que a narrativa tece, procurar um encontro com o outro através da fala, dos sentidos ali empregados.
iv. Ao
pronunciarem as suas experiências os pais também as escutam e podem vê-las e
senti-las melhor, e os significados articulados começam a se transformar.
b)
Psicólogo
no processo de psicodiagnóstico:
i. Não
é saber mais sobre o outro do que ele mesmo sabe;
ii. Devemos
saber esperar que o processo se desenvolva;
iii. Não
explicar as situações a partir de referências teóricas externas e classificar
os clientes em categorias pré-estabelecidas;
iv. É
um processo artesanal que parte da experiência
vivida pelas pessoas, narrada e compartilhada
nas várias histórias;
v. As
experiências vividas ganha espaço através dessas narrativas, e elas,
transformam os significados da experiência vivida.
vi. Os
significados das palavras não podem
ser pressupostos, mas é necessário
um esforço de compreensão para não achar que sabemos o que ainda não sabemos.
5) As devolutivas para as crianças em forma de
narrativas.
a)
Prática
proposta: elaborar pequenas histórias para o encontro no qual devolvemos as
crianças o que fomos compreendendo.
b)
História:
criamos personagens, imagens, recortes ou imagens digitais e montamos uma
história que reflete a compreensão que
tivemos da criança durante nossos
encontros e que possa ser compartilhada com ela.
c)
Este modo de devolutiva é também uma narrativa, não atribuímos nada da
história a criança e ela é livre para aceitá-la ou não, mudá-la ou não e
atribuir seus próprios significados.
d)
Esta possibilita um jogo simbólico entre os psicólogos e a criança, aproximando-a de si
mesmo de forma lúdica e estimulante.
e)
Possibilitam o resgate da própria experiência
vivida, retomam o passado e o futuro no tempo presente.
f)
O ali e
agora do psicodiagnóstico interventivo recria outras possibilidades de ser, quebra o silêncio e põe em movimento
a pessoa que busca o psicólogo.
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