4 de jun. de 2013

Referências Técnicas para atuação do psicólogo no CRAS/SUAS

1. Referências Técnicas para atuação do psicólogo no CRAS/SUAS

1.1. Dimensão ético-política da Assistência Social

a)      Transformações geradas a partir da Constituição de 1988.
b)      A partir da Constituição houve articulação da Assistência Social com a Saúde e Previdência Social.
c)       Constitui-se o Sistema Brasileiro de Seguridade Social que passou a ser reconhecida como política pública em 1993 na vigência da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS).
d)      Garantia de direitos e cidadania de amplos segmentos da população.
e)      A partir da IV Conferência Nacional de Assistência Social (2003) e das diretrizes estabelecidas pelo LOAS, aprovou-se a implementação do Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
f)       Estabeleceu-se a Política Nacional de Assistência Social (PNAS/2004) que operacionalizada através do SUAS, tem intuito de efetivar uma política para a promoção da vida.
g)      O desafio  da Psicologia é estar atento às potencialidades e às vulnerabilidades instaladas nas comunidades, nos territórios, onde as famílias estabelecem seus laços mais significativos.
h)      O SUAS propõem sua intervenção a partir de duas estruturas articuladas entre si:
·         Proteção Social Básica (CRAS):
- Prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários.
- Destinado à população em situação de vulnerabilidade social.
- Objetivo de desenvolvimento local, buscando potencializar o território.
- A atuação do psicólogo tem como foco a prevenção e promoção da vida.
·         Proteção Social Especial (CREAS) – considerando as ações de média e alta complexidade: Destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social.
i)        A atuação do Psicólogo compreende:
- Priorizar as potencialidades, voltar-se para a valorização dos aspectos saudáveis presentes no sujeito, nas famílias e comunidades.
- Enfrentamento, desnaturalização da violação de direitos, e de superação das contradições sociais.
- Desenvolver no usuário do sistema a autonomia, empoderamento para fazer valer seus direitos.
- Possibilitar a participação social, compreensão do homem como produtor de sua história, esta é condição básica à cidadania.
- A partir da intervenção, atravessar o cotidiano de desigualdades e violências a estas populações, visando o enfrentamento e superação das vulnerabilidades, investindo na apropriação, do lugar de protagonista na conquista e afirmação de direitos.
- Compromisso com a autonomia dos sujeitos, com a crença no potencial dos moradores e das famílias das populações, para que rompam o processo de exclusão/marginalização, assistencialismo e tutela.
- Para uma atuação ética e política é imprescindível a identificação e apropriação da atuação, enquanto profissional, e crença no que se faz, mesmo diante de adversidades e desafios inerentes, isso contribui para um protagonismo profissional de fato, capaz de fomentar, a construção de autonomias  e a geração de outros protagonistas.

1.2. Psicologia e Assistência Social

a)      Finalidade básica é o fortalecimento dos usuários como sujeitos de direitos e fortalecimento das políticas públicas.
b)      Políticas públicas são um conjunto de ações coletivas geridas e implementadas pelo Estado, que devem ser voltadas para a garantia de direitos sociais, norteadas pelos princípios da impessoalidade, universalidade, economia e racionalidade e tendendo a dialogar com o sujeito cidadão.
c)      Psicologia pode oferecer para elaboração e execução de políticas públicas de Assistência Social preocupadas em promover a emancipação social das famílias e fortalecimento da cidadania.
d)      Humanizar as políticas públicas, sujeitos pensados como constituídos de subjetividade, que é construída na interação com os aspectos histórico-culturais e afetivo-relacionais que os cercam. Essa dimensão subjetiva deve ser pensada quando se organizam e executam as políticas públicas.
e)      Compreender o papel ativo do indivíduo e a influência das relações sociais, que podem favorecer a construção de uma atuação profissional que seja transformadora das desigualdades sociais.
f)       O apoio psicológico básico é uma possibilidade de facilitar o movimento dos sujeitos para o desenvolvimento de sua capacidade de intervenção e transformação do meio social onde vive, uma vez que visa à potencialização de recursos psicossociais individuais e coletivos frente à situações de risco e vulnerabilidade social.
g)      As atividades desenvolvidas estão voltadas para o alívio imediato da pobreza, ruptura do ciclo intergeracional da pobreza e o desenvolvimento das famílias.
h)      Os psicólogos devem promover e fortalecer vínculos sócio-afetivos, de forma que gerem progressivamente independência dos benefícios oferecidos e promovam a autonomia na perspectiva da cidadania, atuar numa perspectiva emancipatória.
i)        Intervenção com base na demanda planejada (construída pelo diálogo entre o saber do técnico e da população referenciada).
j)        Princípios norteadores da prática psicológica:
- Atuar em consonância com as diretrizes e objetivos da PNAS, efetivação das políticas públicas e construção de sujeitos cidadãos.
- Atuar de modo integrado entre Psicologia e Serviço Social.
- Atuar de forma integrada com o contexto local, com a realidade municipal e territorial, fundamentada em seus aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais.
- Basear-se na leitura e inserção do tecido comunitário.
- Identificar e potencializar os recursos psicossociais.
- Diálogo entre saber popular e saber científico da Psicologia.
- Favorecer espaços de participação social, contribuindo para exercício da cidadania ativa.
- Buscar a construção de práticas cotextualizadas.
- Atender com prioridades os casos de maior vulnerabilidade.
- Atuar em espaços adequados e viáveis para desenvolvimento das ações.

1.3. Atuação do psicólogo no CRAS

a)      São realizados os seguintes serviços e benefícios:
·         Serviços: socioeducativo-geracionais, intergeracionais e com famílias; sócio-comunitário; reabilitação na comunidade; outros;
·         Benefícios: transferência de renda (bolsa-família e outra); Benefícios de Prestação Continuada - BPC; benefícios eventuais - assistência em espécie ou material; outros;
·         Programas e projetos:  capacitação e promoção da inserção produtiva; promoção da inclusão produtiva para beneficiários do programa Bolsa Família - PBF e do Benefício de Prestação Continuada; projetos e programas de enfrentamento à pobreza; projetos e programas de enfrentamento à fome; grupos de produção e economia solidária; geração de trabalho e renda.
b)      O psicólogo pode participar de todas estas ações, articulando a sua atuação a um plano de trabalho em conjunto com a equipe multidisciplinar. As ações devem ter caráter contínuo e levar em conta a população e suas vulnerabilidades.
c)      As atividades do psicólogo devem estar voltadas para a atenção e prevenção a situações de risco, fortalecendo os vínculos familiares e comunitários e por meio do desenvolvimento de potencialidades  e aquisições pessoais e coletivas.
d)      Apropriar-se de marcos legais e normativos operacionais da política pública em geral:
Ø  Constituição Federal de 1988;
Ø  Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS/1993;
Ø  Estatuto da Criança e Adolescente – ECA/1990;
Ø  Plano Nacional de Assistência Social – PNAS/2004;
Ø  Política Nacional do Idoso – PNI/1994;
Ø  Política Nacional de Integração da Pessoa com Deficiência – NOB-SUAS/2005;
Ø  Novo Código Civil;
Ø  Leis, Portarias e Decretos do Ministério de Desenvolvimento Social.

e)      Apropriar-se dos fundamentos ético legais, teóricos e metodológicos para o trabalho com e para as famílias, seus membros e indivíduos.
f)       Apropriar-se de conhecimentos sobre indicadores de vulnerabilidades e risco sócio-psicológico, especificidades étnicas e culturais, dialética de exclusão/inclusão; leitura sócio-psicológica da realidade.
g)      Orientar-se pelos princípios éticos, conforme proposto pelo NOB-RH/SUAS:
- Defesa intransigente dos direitos socioassistenciais;
- Compromisso com ofertas, serviços, programas, projetos, benefícios que garantam a oportunidade de convívio;
- Promoção do acesso à informação;
- Construção de projetos para autonomia e sustentabilidade;
- Reconhecimento do direito dos usuários ao acesso a benefícios e renda e a oportunidade para inserção profissional;
- Incentivo aos usuários para participação de fóruns, conselhos e movimentos sociais;
- Garantia de acesso sem discriminação de qualquer natureza;
- Devolução de informações colhidas nos estudos e pesquisas aos usuários;
- Contribuir para a criação de mecanismos que desburocratizem a relação com os usuários.
h)      Abandona o assistencialismo, não está centrada na caridade e nem favor, rompendo o paradigma de tutela, das ações dispersas e pontuais.
i)        Respeitando o caráter ético conforme determina o Código de Ética Profissional.


3 de jun. de 2013

Metodologias de Coleta de Dados na Pesquisa Qualitativa

Pessoal segue um pequeno resumo da referência bibliográfica (Metodologias Qualitativas em Sociologia – Haguette, T.M.F.) citada na disciplina online para Projeto de Pesquisa em Psicologia Social::


1.     Metodologias de Coleta de Dados na pesquisa qualitativa

1.1. Metodologias qualitativas em sociologia – Haguette

1.1.1.  Fundamento Teórico

a)      Antropologia e Sociologia utilizaram técnicas semelhantes na abordagem do real, principalmente na participação do pesquisador no local pesquisado (ver o mundo aos olhos dos pesquisados).
b)     Sociologia (vertente interacionista) organização social está assentada nos sentidos, definições e ações que grupos elaboram no processo de interação simbólica ao longo do dia-a-dia.
c)      Metodologias qualitativas nascem em um ambiente social, intelectual e teórico específico, que se reportam a clássicos da sociologia, como, Cooley, Thomas, Mead.
d)     Métodos e Técnicas não são autônomos e nem neutros.
e)      Pesquisar é sempre tematizar o real, dentro de uma dialética do sujeito e do objeto, com o auxílio de métodos e técnicas que permitem uma aproximação do real.

1.1.2.  Metodologias

a)      Método Quantitativo: supõem uma população de objetos de observação comparáveis entre si.
b)     Método Qualitativo: enfatiza especificidades de um fenômeno em termos de sua origem e sua razão de ser.
c)      Tanto as “estruturas” quanto os “microprocessos” da ação social devem ser conhecidos, analisados e interpretados, cabendo a cada um a metodologia apropriada ao que se deseja investigar.
d)       Quatro técnicas da metodologia qualitativa:
        São frequentemente usadas: a) em teses de hipóteses, quando os métodos estruturados não podem ser empregados; b) na reconstituição de um evento; c) na história de vida de indivíduos, organizações ou comunidades; d) estudos pilotos sobre novas áreas do conhecimento.
ü  Observação participante: Contato direto do pesquisador, relação face a face onde ele modifica e é modificado pelo contexto.
ü  História de vida (HV): Documento ou Captação de dados. Serve como ponto de referência para avaliar teorias, pode servir de base para suposições, favorecer insights, auxiliar na busca de novas variáveis em uma área desgastada e dar sentido à noção de “processo”(entende o ponto de vista de pessoa).
ü  Entrevista:
Ø  Aspectos que podem interferir: a) motivos ulteriores (pensa que  sua resposta pode influenciar positivamente em uma situação futura); b)quebra de espontaneidade; c) desejo de agradar; d) fatores idiossincráticos (íntimo de cada pessoa); e)conhecimento sobre o assunto da entrevista; f)falha na observação; g) omissão de dados por ambas as partes.
ü  História oral (HO): Em termos gerais pode-se dizer que tudo que é ORAL, gravado e preservado pode ser considerado história oral (discursos, conversas telefônicas, conferências). Tem por finalidade preencher lacunas existentes nos documentos escritos. É interdisciplinar, servindo para várias áreas.
Ø  Pode não ser confiável: a) se tratar de depoimento parcial; b) se fundar na memória de um depoente.
ü  HO, HV e entrevista não podem partir da informação de um único depoente, mas um conjunto de depoimentos que informam o todo.

1.1.3.  Crítica aos métodos tradicionais

a)      Postura crítica em relação às metodologias tradicionais como consequência do descrédito que a “ciência” tem provocado por ter-se mostrado incapaz de resolver problemas de pobreza, de subdesenvolvimento, de falta de democracia = problemas de desigualdades sociais.
b)     Crítica à falta de neutralidade e objetividade e seu postulado de distanciamento entre sujeito e objeto da pesquisa, surgiram propostas de Pesquisa-participante e Pesquisa-ação (originado na psicologia social e cunhado por Kurt Lewin na década de quarenta).
c)      Surgem devido à necessidade de inserção do pesquisador no meio e de uma participação efetiva da população pesquisada no processo de geração do conhecimento concebido.