PRIMEIRA LIÇÃO
PALAVRAS CITADAS:
Histeria – Derivada da palavra grega hystera (matriz, útero), a histeria é uma
neurose* caracterizada por quadros clínicos variados. Sua originalidade reside
no fato de que os conflitos psíquicos inconscientes se exprimem de maneira
teatral e sob a forma de simbolizações, através de sintomas corporais
paroxísticos (ataques ou convulsões de aparência epiléptica) ou duradouros
(paralisias, contraturas, cegueira). As duas principais formas de histeria
teorizadas por Sigmund Freud* foram a histeria de angústia, cujo sintoma
central é a fobia*, e a histeria de conversão, onde se exprimem através do
corpo representações sexuais recalcadas. A isso se acrescentam duas outras
formas freudianas de histeria: a histeria de defesa*, que se exerce contra os
afetos desprazerosos, e a histeria de retenção, onde os afetos não conseguem se
exprimir pela ab-reação*. A expressão histeria hipnóide pertence ao vocabulário
de Freud e Josef Breuer* no período de 1894-1895. Foi também empregado pelo psiquiatra
alemão Paul Julius Moebius (1853-1907). Designa um estado induzido pela
hipnose* e que produz uma clivagem* no seio da vida psíquica. A expressão
histeria traumática pertence ao vocabulário clínico de Jean Martin Charcot* e
designa uma histeria consecutiva a um trauma físico.
Absence – (ausência) confusão e alteração da personalidade.
A psicanálise
inicia-se com o médico Breuer quando a utiliza pela primeira vez para o
tratamento de uma jovem histérica (1880-1882), que é publicado posteriormente
por Breuer e Freud no ano de 1895, denominado Estudos Sobre a Histeria.
A paciente do Dr. Breuer de altos dotes intelectuais apresentava
uma séria de perturbações físicas e psíquicas e uma característica
impossibilidade de beber. Isto que poderia ser considerado uma doença grave,
era desde o tempo da medicina grega denominado histeria.
Este quadro da paciente de Breuer surgiu quando estava tratando o
pai enfermo, que foi conduzido a morte.
A medicina por falta de conhecimento e impossibilidade de
tratamento julga os histéricos simulados e acusa-os de exagero. O Dr. Breuer
entretanto não censurou sua paciente, o que se deve as elevadas qualidades da
jovem.
Pode-se observar que nos estados de absence a doente murmurava
palavras que pareciam relacionar-se com o que ocupava o seu pensamento, diante
disso o Dr. Breuer anotou estas palavras e colocando a moça em um estado
hipnótico disse-as para incitar uma associação de ideias pela paciente. Assim a
paciente relatou fantasias tendo como ponto de partida a cabeceira do pai
enfermo.
Após os relatos a paciente reconduzia-se a vida normal, sendo que
este bem estar durava horas, até o momento de um novo estado de absence que
cessava com a revelação destas fantasias. As alterações psíquicas durante a
absence eram consequência de excitação provocada pelas fantasias intensamente
afetivas.
A própria paciente que no período da moléstia só falava inglês,
denominou este tratamento de “talking cure” (cura de conversação).
A paciente que se via impossibilitada de beber água, mesmo com
uma sede terrível, durante a hipnose certa vez, relatou que tendo ido ao quarto
da sua dama de companhia, viu o cãozinho bebendo água num copo, tendo
causado-lhe repugnância. Após este relato conseguiu beber novamente.
Diante deste fato foi possível verificar que experiências
emocionais deixavam “resíduos” denominados posteriormente de “traumas
psíquicos”. Sendo que o sintoma possuía relação com a cena traumática.
Considerando-se também que nem sempre era um único acontecimento
que deixava atrás de si os sintomas e sim na maioria dos casos numerosos
traumas, às vezes análogos e repetidos. Toda esta cadeia de recordação tinha de
ser reproduzida em ordem cronológica e inversa.
Os histéricos sofrem de reminiscências e símbolos mnêmicos
(memória) de experiências traumáticas, não só as recordam, como, ainda se
prendem a elas emocionalmente tornando-se alheios a realidade e ao presente.
Possuem uma fixação da vida psíquica aos traumas patogênicos.
A paciente de Breuer teve de subjugar uma poderosa emoção na
situação de sua aversão ao cãozinho bebendo água e diante da cabeceira do pai
para que não percebesse sua ansiedade. Diante do médico a doente manifestou sua
energia afetiva que estava contida. Podendo verificar-se que era inútil
recordar tais acontecimentos sem exteriorização afetiva.
Podemos assim imaginar que as emoções regulavam tanto a doença
como a cura. Estas emoções tornavam-se patogênicas quando não tinham exteriorização
normal, estando estas “enlatadas” e em parte desviavam-se para sintomas
físicos, sendo proposto o nome de “conversão histérica”, que representa uma
expressão mais intensa das emoções, conduzidas por uma nova via.
SEGUNDA LIÇÃO
PALAVRAS CITADAS:
Catártico (catarse) – método catártico o procedimento terapêutico pelo qual
um sujeito consegue eliminar seus afetos patogênicos e então ab-reagi-los,
revivendo os acontecimentos traumáticos a que eles estão ligados.
Repressão – Em psicanálise*, a repressão é uma operação psíquica que tende a
suprimir conscientemente uma ideia ou um afeto cujo conteúdo é desagradável.
Resistência - para designar o conjunto das reações de um analisando cujas
manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da
análise.
Sublimação - Sigmund Freud* conceituou o termo em 1905 para dar conta de um tipo
particular de atividade humana (criação literária, artística, intelectual) que
não tem nenhuma relação aparente com a sexualidade*, mas que extrai sua força
da pulsão* sexual, na medida em que esta se desloca para um alvo não sexual,
investindo objetos socialmente valorizados.
Quase ao mesmo tempo em que Breuer praticava a talking cure (cura
de conversação) com sua paciente, começava o grande Charcot, em Paris, com as
doentes histéricas da Salpêtrière, as investigações de onde havia de surgir
nova concepção da enfermidade.
Seguindo o exemplo de Pierre Janet que estudou os processos
psíquicos particulares da histeria, Freud tomou a divisão da mente e a
dissociação da personalidade como ponto central de sua teoria.
Janet levava em conta as ideias dominantes da França para sua
teoria e acreditava que a histeria era uma forma de alteração degenerativa do
sistema nervoso, que se manifestava pela fraqueza congênita do poder de síntese
psíquica. Os histéricos seriam incapazes de manter a multiplicidade dos
processos mentais, esta seria a explicação para a dissociação psíquica.
Freud prosseguindo as pesquisas iniciadas por Breuer foi levado a
outro ponto de vista a respeito da dissociação histérica (a divisão da
consciência).
O procedimento catártico realizado por Breuer exigia a hipnose
profunda do paciente, somente neste estado hipnótico ele tinha conhecimento das
ligações patogênicas, que em condições normais às escapavam. Para Freud este
procedimento se tornou cansativo, sendo um recurso incerto, assim abandonou a
hipnose. Decidiu agir com o método catártico estando os pacientes em estado
normal. Questionou-se em como fazer o doente contar aquilo, que nem ele mesmo
sabia, neste momento recordou-se de uma experiência de Bernheim, que pessoas
submetidas a um estado de sonambulismo hipnótico, tinham executado atos
diversos, sendo possível recordar do que houve durante este estado em
consciência normal.
Assim Freud procedeu da mesma maneira com seus pacientes, no
momento em que o doente afirmava nada mais saber, assegurava-lhes que sabia, e
ia mesmo até afirmar que a recordação exata seria a que lhes apontasse no
momento em que lhes pusesse a mão sobre a fronte. Porém após algum tempo, esta se
mostrou inadequada para uma técnica definitiva.
Pode observar que as recordações do doente não estavam
esquecidas, mas que alguma força as detinha, permanecendo no inconsciente.
Percebia em oposição à potência quando se tentava trazer as lembranças
inconscientes. Foi nesta ideia de resistência que Freud alicerçou sua concepção
sobre os processos psíquicos na histeria. Para restabelecer o doente mostrou-se
indispensável suprimir as resistências.
Freud formula a ideia que denomina a gênese da doença, sendo: as
mesmas forças que hoje, como resistência, se opõem a que o esquecido volte à
consciência deveriam ser as que antes tinham agido, expulsando da consciência
os acidentes patogênicos correspondentes, a este processo ele nomeia
“repressão”.
Através do tratamento catártico Freud pode explicar o mecanismo
patogênico da histeria, como se tratando do aparecimento de um desejo violento
em contraste com os demais desejos do indivíduo e incompatíveis com as
aspirações morais e estéticas de sua personalidade, sendo este um desejo
inconciliável, sucumbia à repressão e permanecia no inconsciente. Era,
portanto, a incompatibilidade entre a ideia e o ego, o motivo da repressão, que
evitava o desprazer, um meio de proteção da personalidade psíquica.
Desta forma a concepção freudiana diferencia-se da de Janet, pois
não é atribuída a divisão psíquica à incapacidade inata para a síntese da parte
do aparelho psíquico, mas, explica-se pela dinâmica do conflito de forças mentais
contrárias. Os conflitos psíquicos são frequentes, sem que isso produza a
divisão psíquica.
A hipnose encobre a resistência, deixando livre e acessível um
determinado setor psíquico, contudo sua fronteira acumula as resistências,
criando para o resto uma barreira intransponível.
O sintoma pode ser um
substituto da ideia reprimida, já que o sintoma é protegido contra as forças
defensivas do ego, causando um sofrimento interminável. Pode-se reconhecer
traços de semelhança do sintoma com a ideia primitiva reprimida. Assim é necessário que o sintoma seja
reconduzido pelo mesmo caminho até a ideia reprimida.
Quando se consegue reconstituir a atividade mental consciente
daquilo que fora reprimido – pressupõe que resistências tenham sido desfeitas -
o conflito psíquico que se originara e que o doente quis evitar, orientado pelo
médico, seria uma solução mais feliz do que a oferecida pela repressão.
Quando o doente se convence que repelira sem razão o desejo e
aceita-o, este é dirigido para um alvo irrepreensível e mais elevado
(denomina-se sublimação) ou reconhece como justa a repulsa, onde o mecanismo de
repressão é insuficiente e é substituído por um julgamento de condenação, o controle consciente do desejo é atingido.
TERCEIRA LIÇÃO
PALAVRAS CITADAS:
Catexia - é o processo pelo qual a energia libidinal disponível na psique é
vinculada a ou investida na representação mental de uma pessoa, idéia ou coisa.
A libido que foi catexizada perde sua mobilidade original e não pode mais
mover-se em direção a novos objetos. Está enraizada em qualquer parte da psique
que a atraiu e segurou.
Associação livre - foi um método utilizado por Freud, em
substituição à hipnose, que consistia em deitar o paciente no divã e encorajá-lo a dizer o que viesse à sua mente, sendo também este
convidado a relatar seus sonhos. Freud
analisava todo o material que aparecesse, e buscava entendê-los e encontrar os
desejos, temores, conflitos, pensamentos e lembranças que pudessem se encontrar, que estivessem
além do conhecimento consciente do paciente.
Conteúdo manifesto e latente – O conteúdo manifesto é uma deformação do conteúdo
latente, o que equivale a dizer que o conteúdo latente dissimula-se por trás do
conteúdo manifesto. Essa deformação é a marca de umadefesa* contra o desejo
veiculado pelo sonho.
Condensação – Termo empregado por Sigmund Freud* para designar um dos principais
mecanismos do funcionamento do inconsciente*. A condensação efetua a fusão de
diversas idéias do pensamento inconsciente, em especial no sonho*, para
desembocar numa única imagem no conteúdo manifesto, consciente*.
Deslocamento – Processo psíquico inconsciente*, teorizado por Sigmund Freud* sobretudo
no contexto da análise do sonho*. O deslocamento, por meio de um deslizamento
associativo, transforma elementos primordiais de um conteúdo latente em
detalhes secundários de um conteúdo manifesto.
Ato falho – Ato pelo qual o sujeito*, a despeito de si mesmo,substitui um projeto ao
qual visa deliberadamente por uma ação ou uma conduta imprevistas.
Corrigindo uma inexatidão somente nas primeiras vezes aconteceu
que pela simples pressão por Freud exatamente o esquecido que buscava se
apresentava. Continuando a empregar o método, vinham pensamentos
despropositados.
Valeu-se então da utilização de um pressuposto cuja exatidão
científica foi anos depois demonstrada pelo amigo C. G. Jung, de Zurique e seus
discípulos.
Duas forças antagônicas atuavam no doente; de um lado, o esforço
para trazer à consciência o que permanecia no inconsciente; de outro lado à
resistência, impedindo a passagem para o consciente do elemento reprimido.
Podendo admitir que tanto maior a deformação do elemento procurado maior a
resistência deste. O pensamento que vinha no doente em lugar do desejado, tinha
origem idêntica ao sintoma, sendo o sintoma menos semelhante quanto maior fosse
à deformação que sofresse sob influência da resistência. O pensamento devia
comportar-se em relação ao elemento reprimido com uma alusão, como uma
representação do mesmo por meio de palavras indiretas.
Nomeia-se “complexo” um grupo de elementos
ideacionais interdependentes, catexizados de energia afetiva. Assim tem-se a
probabilidade de desvendar um complexo reprimido na medida que o doente
proporcione um número suficiente de associações livres. Realiza-se mandando o
doente dizer o que lhe vem a mente e este indiretamente depende do complexo
procurado, sendo o único método praticável. Por vezes o doente afirma não ter
mais nada a dizer, porém ideias livres nunca deixam de aparecer, o paciente
influenciado pela resistência disfarçada em juízos críticos sobre o valor da
ideia, retém-na ou de novo a afasta. Assim solicita-se ao paciente que exponha
o que lhe vier ao pensamento sem nenhuma seleção ou crítica.
A interpretação dos sonhos é a estrada real para o conhecimento
do inconsciente, a base mais segura da psicanálise. Quando acordados costumamos
tratar os sonhos com o mesmo desdém com que os doentes rejeitam as ideias
soltas despertadas pelo psicanalista. O nosso descaso funda-se no caráter
exótico apresentado mesmo pelos sonhos que apresentam clareza e nexo, como
também pela absurdez e insensatez dos demais, esta repulsa explica-se pelas
tendências imorais e menos pudicas que se patenteiam em muitos deles. A
antiguidade e as camadas baixas do nosso povo, mesmo hoje, não compartilha de
tal desapreço, pois esperam a revelação do futuro.
Para Freud não há necessidade de nenhuma hipótese mística.
Diferente deste conceito, o sonho seria a realização de desejos trazidos pelo
dia do sonho. Apresentam-se de forma distorcida da sua forma original, tendo
uma expressão verbal diversa da apresentada no sonho. Devendo diferenciar o
conteúdo manifesto, o qual se recorda no dia seguinte, do conteúdo latente do
sonho o qual pertence ao inconsciente.
Esta deformação já é conhecida, estando presente na gênese dos
sintomas histéricos, sendo a prova da participação da mesma interação de forças
mentais tanto na formação de sonhos como na dos sintomas. O conteúdo manifesto
do sonho é substituto deformado para os pensamentos inconscientes do sonho.
Esta deformação é obra das forças defensivas do ego, isto é, da resistência que
na vigília impede a passagem para a consciência, dos desejos reprimidos do
inconsciente; enfraquecidas durante o sono, estas resistências são
suficientemente fortes para só os tolerar disfarçados. Quem sonha, portanto
reconhece tão mal o sentido dos sonhos, como o histérico as correlações e
significados de seus sintomas. O sonho
manifesto que conhecem no adulto graças à recordação pode então ser descrito
como uma realização velada de desejos reprimidos.
O processo de ‘elaboração onírica’, o qual pensamentos
inconscientes do sonho se disfarçam no conteúdo manifesto, ocorre entre dois
sistemas psíquicos distintos, como consciente e inconsciente. Entre estes
processos há a condensação e o deslocamento.
Pela análise dos sonhos descobriu-se o importantíssimo papel que
os fatos e impressões da tenra infância exercem no desenvolvimento do homem,
conservando todas as peculiaridades e aspirações, como desenvolvimento de
repressões, sublimações e formações reativas. Ainda faz-se notar também através
da análise dos sonhos, que o inconsciente serve para a representação de
complexos sexuais, de certo simbolismo, em parte variável individualmente e em
parte tipicamente fixo.
O aparecimento de pesadelos contradiz o nosso modo de entender o
sonho como satisfação dos desejos. A ansiedade que os acompanha não depende
simplesmente do conteúdo onírico, ansiedade é uma das reações do ego contra
desejos reprimidos violentos. Pode-se assim compreender que a interpretação de
sonhos, quando as resistências do doente não atrapalham-na, levam ao
conhecimento dos desejos ocultos e reprimidos, bem como dos exemplos entretidos
por este.
Tratará agora do terceiro grupo de fenômenos psíquico cujo estudo
se tornou recurso técnico empregado na psicanálise. O fenômeno em questão são
as pequenas falhas comuns aos indivíduos normais e aos neuróticos, fatos os
quais costumamos não dar importância – o esquecimento de coisas que deviam
saber e que às vezes sabem realmente (por exemplo, fuga temporária de nomes
próprios) lapsos de linguagem, na escrita ou na literatura em voz alta;
atrapalhões no executar qualquer coisa, perda ou quebra de objetos, etc.
Juntam-se atos ou gestos que as pessoas executam sem perceber ou atribuir
importância, como trautear melodias, brincar com objetos, com partes da roupa
ou do próprio corpo, etc. Os atos falhos como os sintomáticos e fortuitos,
exprimem impulsos e intenções que devem ficar ocultos à própria consciência,
pois emanam dos desejos reprimidos e dos complexos que, são criadores de sintomas
e formadores dos sonhos. Fazem a mesma
consideração que os sintomas e os sonhos, que podem levar ao descobrimento da
parte oculta da mente. São do mais alto
valor teórico testemunham a existência da repressão e da substituição mesmo na
saúde perfeita.
O psicanalista se distingue pela rigorosa fé no determinismo da
vida mental. Não existindo nada insignificante nas manifestações psíquicas.
Antevê um motivo suficiente em toda parte e está disposto a aceitar causas
múltiplas para o mesmo efeito, enquanto nossa necessidade causal, que supomos
inata, se satisfaz plenamente com uma
única causa psíquica.
O estudo das ideias livremente associadas pelos pacientes, seus
sonhos, falhas e ações sintomáticas, considerando ainda outros fenômenos no
decurso do tratamento psicanalítico, chega-se a conclusão de que a técnica é
suficiente capaz de realizar aquilo que se propôs: conduzir à consciência o
material psíquico patogênico, dando fim aos padecimentos ocasionados pela
produção dos sintomas de substituição.
QUARTA LIÇÃO
PALAVRAS CITADAS:
Auto-erotismo – Termo proposto por Havelock Ellis* e retomado por Sigmund
Freud* para designar um comportamento sexual de tipo infantil, em virtude do
qual o sujeito encontra prazer unicamente com seu próprio corpo, sem recorrer a
qualquer objeto externo.
Zona erógena – se distribuem por quatro regiões do corpo: oral, anal, uretro-genital e
mamária. A cada zona correspondem uma ou mais atividades eróticas, dentre as
quais Freud situou os atos mais simples da vida cotidiana das crianças: sucção
do polegar ou do seio da mãe, defecação e masturbação.
Complexo de Édipo – O complexo de Édipo é a representação inconsciente pela qual
se exprime o desejo* sexual ou amoroso da criança pelo genitor do sexo oposto e
sua hostilidade para com o genitor do mesmo sexo. Essa representação pode
inverter-se e exprimir o amor pelo genitor do mesmo sexo e o ódio pelo do sexo
oposto. Chama-se Édipo à primeira representação, Édipo invertido à segunda, e
Édipo completo à mescla das duas. O complexo de Édipo aparece entre os 3 e os 5
anos. Seu declínio marca a entrada num período chamado de latência, e sua
resolução após a puberdade concretiza-se num novo tipo de escolha de objeto.
Libido – designar
a manifestação da pulsão* sexual na vida psíquica e, por extensão, a sexualidade*
humana em geral e a infantil em particular, entendida como causalidade psíquica
(neurose*), disposição polimorfa (perversão*), amor-próprio (narcisismo*) e
sublimação.
Sadomasoquismo – Termo forjado por Sigmund Freud*, a partir de sadismo* e masoquismo*,
para designar uma perversão* sexual baseada num modo de satisfação ligado ao
sofrimento infligido ao outro e ao que provém do sujeito* humilhado. Por
extensão, esse par de termos complementares caracteriza um aspecto fundamental
da vida pulsional, baseado na simetria e na reciprocidade entre um sofrimento
passivamente vivido e um sofrimento ativamente infligido.
Os desejos patogênicos são da natureza dos componentes
instintivos eróticos, sendo as perturbações do erotismo têm maior importância
entre as influências que levam à moléstia em ambos os gêneros.
Os doentes em nada facilitam o reconhecimento da tese, procuram
ocultá-la. Com efeito nenhum de nós pode manifestar o seu erotismo francamente,
em nosso mundo civilizado não são realmente favoráveis à atividade sexual. Quando
porém os pacientes tiverem percebido que durante o tratamento devem estar à
vontade, se despojarão daquele manto de mentira, e só então estarão os
presentes em condições de formar juízo a respeito deste problema.
Para esclarecimento completo da análise faz-se necessário
retroceder até a puberdade e a mais remota infância do doente, somente estes
fatos explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com os
descobrimentos destes, e com a volta a consciência, é que se adquire o poder de
afastar os sintomas.
A criança possui, desde o princípio, o instinto e as atividades
sexuais. Ela os traz consigo para o mundo, e deles provêm, através de uma
evolução rica de etapas, até a chamada sexualidade normal do adulto. Na
primeira fase da vida sexual infantil a satisfação é alcançada no próprio
corpo, excluído qualquer objeto estranho, dá-se o nome de auto-erotismo. Zonas
erógenas denominam-se os lugares do corpo que proporcionam o prazer sexual,
como chupar o dedo, o gozo da sucção, são exemplos de auto-erotismo partida de
uma zona erógena. Outra satisfação da mesma ordem, nessa idade, é a excitação
masturbatória dos órgãos genitais, fenômeno de grande importância para o resto
da vida, que muitos indivíduos não conseguem superar jamais. Ao lado destas
atividades auto-eróticas revelam-se na criança, componentes do gozo sexual ou
da libido que pressupõe como objeto uma pessoa estranha. Estes instintos
aparecem em grupos de dois, um oposto ao outro, ativo e passivo: os mais
notáveis representantes deste grupo o prazer de causar sofrimento (sadismo) com
o seu reverso passivo (masoquismo) e o prazer visual, ativo ou passivo. Do gozo
visual ativo desenvolve-se mais tarde a sede de saber, como do passivo para as
representações artísticas e teatrais. A diferença de sexo ainda não tem neste
período infantil papel decisivo, pode-se atribuir a toda criança uma parcial
disposição homossexual. A escolha de objeto repele o auto-erotismo, de maneira
que na vida erótica os componentes do instinto sexual só querem satisfazer-se na pessoa
amada. Mas nem todos os componentes instintivos originários são admitidos a
tomar parte nesta fixação definitiva da vida sexual.
Um princípio da patologia geral afirma que todo processo evolutivo
traz em si os germes de uma disposição patológica e pode ser inibido ou
retardado ou desenvolver-se incompletamente. Nem todos os impulsos parciais se
sujeitam à soberania da zona genital; o que ficou independente chamamos de
perversão e pode substituir a finalidade sexual normal pela sua própria.
A criança toma ambos os genitores, e particularmente em deles,
como objeto de seus desejos eróticos. O pai em regra tem preferência pela
filha, a mãe pelo filho: a criança reage desejando o lugar do pai se é menino,
o da mãe se trata da filha. Os sentimentos nascidos destas relações entre pais
e filhos e entre um irmão e outros, não são somente de natureza positiva, de
ternura, mas também negativos, de hostilidade. O complexo assim formado é
destinado à pronta repressão, porém continua a agir do inconsciente com
insistência e persistência.
No tempo em que é dominada pelo complexo central ainda não
reprimido, a criança dedica aos interesses sexuais notável parte da atividade
intelectual. O próprio fato dessa investigação e as conseqüentes teorias
sexuais infantis são de importância determinante para a formação do caráter da
criança e do conteúdo da neurose futura.
É absolutamente normal que a criança faça dos pais o objeto da
primeira escolha amorosa. Porém
a libido não permanece fixa neste primeiro objeto: posteriormente o tomará
apenas como um modelo.
QUINTA LIÇÃO
Com
o descobrimento da sexualidade infantil e atribuindo aos sintomas da neurose os
componentes eróticos instintivos Freud pode chegar a algumas fórmulas
inesperadas sobre a natureza e tendência dos sintomas neuróticos. Viu-se que os
indivíduos adoecem quando, por obstáculos exteriores ou ausência de adaptação
interna lhes falta na realidade a satisfação das necessidades sexuais,
refugiam-se então na doença, para que com seu auxílio encontre uma satisfação
substitutiva. Assim os sintomas mórbidos contêm uma parcela da atividade sexual
do indivíduo ou sua vida sexual inteira. A resistência oposta pelos doentes à
cura seria composta de vários elementos. Não somente o ego do doente se recusa
a desfazer a repressão por meio da qual se esquivou de suas disposições
originárias, como também pode o instinto sexual não renunciar à satisfação que
este lhe proporciona, enquanto houver dúvida de que a realidade lhe ofereça
algo melhor.
Esta satisfação proporcionada pela doença se dá pelo caminho da
regressão às primeiras fases da vida sexual a que na época própria não faltou
satisfação. Esta regressão mostra-se sob dois aspectos: temporal devido à libido
em sua necessidade erótica fixa-se aos mais remotos estados evolutivos; e
formal porque emprega os meios psíquicos originários e primitivos para
manifestação da mesma necessidade. Em ambos os aspectos a regressão orienta-se
para a infância, reestabelecendo um estado infantil da vida sexual.
Pode-se ver a ligação entre as neuroses e outras produções da
vida mental do homem, que, com elevadas aspirações de nossa cultura e sob a
pressão das íntimas repressões, acham a realidade insatisfatória e por isso
mantêm uma vida de fantasia, que compense as deficiências da realidade,
engendrando a realização de desejos. Ainda lhe e possível encontrar outro
caminho dessas fantasias para a realidade, em vez de se alhear ao período
infantil. Quando a pessoa possui dotes artísticos (psicologicamente ainda
enigmáticos) podem suas fantasias transmudar-se não em sintomas, mas em
criações artísticas, subtrai-se desse modo à neurose e reata as ligações com a
realidade.
Pelo estudo psicanalítico dos nervosos, pode inferir que o
conteúdo psíquico dos neuróticos, pode ser encontrado nos sãos, adoecem pelos
mesmos complexos com que lutamos nós, os que temos perfeita saúde. Conforme a
quantidade e proporção entre as forças em choque será o resultado da luta a
saúde, neurose ou a sublimação compensadora.
A experiência mais importante, que vem a confirmar nossa
suposição acerca das forças instintivas sexuais da neurose, foi identifica no
tratamento psicanalítico de um paciente neurótico, surge nele o fenômeno da
‘transferência’, isto é, o doente consagra ao médico sentimentos afetuosos
mesclados muitas vezes por hostilidade, que não são justificados e que devem
provir de antigas fantasias tornadas inconscientes, estes apenas podem
dissolver-se e transformar-se em outros produtos psíquicos com a transferência,
sendo que o médico desempenha nesta reação o papel de atrair para si a energia
afetiva aos poucos liberada durante o processo.
A transferência surge espontaneamente em todas as relações
humanas e de igual modo nas que o doente entretém com o médico, é ela em geral,
o verdadeiro veículo da ação terapêutica, agindo tão fortemente quanto menos se
pensa em sua existência. A psicanálise, portanto, não a cria, apenas a desvenda
à consciência e dela se apossa a fim de encaminhá-la ao termo desejado.
Devemos levar em conta dois obstáculos para a aceitação das
ideias psicanalíticas: primeiramente, a falta de hábito de contar com o
rigoroso determinismo da vida mental, e em segundo, o desconhecimento das
singularidades pelas quais os processos mentais inconscientes se diferenciam
dos conscientes que nos são familiares, nestes emprega-se o temor que se faça
mal de chamar à consciência do doente os impulsos sexuais reprimidos, como se
lhe oferecessem então perigo de aniquilar as mais altas aspirações morais e o
privassem das conquistas da civilização.
Muito obrigado!!!
ResponderExcluirExcelente. Excelente.Excelente!!!!!!
ResponderExcluirMaravilha de resumo!
ResponderExcluirmelhor resumo ! ajudou mt
ResponderExcluirObrigada! Que bom que ajudou!
ExcluirObrigada!!!
ResponderExcluirObrigada!!
ResponderExcluirPerfeito resumo...
ResponderExcluirObrigada!
ExcluirObrigada!
ExcluirPerfeito!!
ResponderExcluirPerfeito resumo...
ResponderExcluirGente
ResponderExcluiresse resumo me trouxe boas energias ! Aquela professora petulante que me aguarde, vou gabaritar aquela prova safada !!
Melhor comentário! hahaha
ExcluirA melhor tradução seria Recalque e não repressão
ResponderExcluirOlá Mateus!
ExcluirO termo repressão foi utilizado, porque esta é a nomeclatura utilizada por Freud em sua obra "Cinco Lições de Psicanálise, Leonardo da Vinci e Outros Trabalhos (1910)".
E como se trata de um resumo desta obra utilizou-se os mesmos termos.
muito obrigada, li o livro do resumo e continuava com algumas dúvidas. me esclareceu bastante
ResponderExcluirObrigada! Que bom que esclareceu!
ExcluirPerfeito o seu resumo,vou sambar na cara da professora kkkkkkkk, brincadeira!
ResponderExcluirMuito obrigado , ajudou bastante.
Excelente Resumo das Cinco Lições, me esclareceu muitas dúvidas e consegui condensar os conhecimentos.
ResponderExcluirObrigada! Sou retribuída ao saber que te esclareceu!
ExcluirObrigada, não tive tempo de ler o livro é esse resumo me ajudou muito.
ResponderExcluirOlá Sandra, que bom qe te ajudou!
ExcluirObrigado pela iniciativa. Sou acadêmico de Psicologia e adepto a Psicanalise e acredito que toda forma de esclarecimento é bem vindo.
ResponderExcluirDeve ser levado em conta que a força de ação do conteúdo inconsciente(considerado por nós como de virtudes questionáveis) sobre a consciência é reduzido quando este mesmo conteúdo através da psicanálise é trazido a luz do eu consciente, deste modo não há motivos para temer sua libertação. Além disso direcionamos assim essa energia em outros objetos que serão positivos a nós.
ResponderExcluirNão tenho palavras para dizer o quanto seu resumo me ajudou!
ResponderExcluirSua escrita é muito fluida e prazerosa de ser lida.
Adorei o resumo. Já havia lido no livro, agora entendi melhor. Bem explicativo. Obrigado!
ResponderExcluirobrigada, maravilhoso.
ResponderExcluir