Livro
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Fundamentos Psicanalíticos: Teoria, técnica e clínica.
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Autor(es)
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ZIMERMAN, David E.
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Capítulo 17
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Neuroses
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Análise sintática de como se articulam entre
si as diferentes partes e níveis das subestruturas psíquicas, devendo distinguir
sintoma, caráter, inibição e estereotipia.
·
Sintoma: estado de sofrimento, corpo estranho a
si, no qual quer livrar-se. Entretanto pode ocorrer do sintoma estar
egossintônica (consonante com a representação que o indivíduo tem de si) que o
paciente não o percebe.
·
Caráter: estado organizado da mente e da
conduta, resultando em harmonia e saúde. Pode prevalecer uma egossintonia, não
percebendo que este caráter possa estar causando prejuízos para si (mutilando
capacidades latentes e reais) e aos outros.
·
Inibição: pode ser preliminar a um sintoma ou já
constituída por um traço permanente do caráter.
·
Estereotipia: atitudes aparentemente normais,
que observando-as mais atentamente, demonstra que executa seus papéis de uma
forma mecânica, sem fazer modificações, girando em torno de uma mesma órbita.
Está unicamente cumprindo papéis fixos e estereotipados (normais ou
patológicos) que lhe foram designados pelos pais e educadores, e mutilam sua
personalidade.
Características da Estrutura
Neurótica
·
Apresentam algum grau de sofrimento e de
desadaptação em alguma, ou mais de uma área importante de sua vida;
·
Conservam uma razoável integração do self;
·
Boa capacidade de juízo crítico e de adaptação à
realidade;
·
Mecanismos de defesa não são tão primitivos,
como os do estado psicótico.
Tipos de Estrutura Neurótica
Podem-se discriminar genericamente
cinco tipos de estruturas neuróticas; a de angústia, histeria,
obsessivo-compulsivo, fobia e depressão. Difícil encontrar esses quadros em
“estado puro”, mas sim, mesclados.
Neurose Atual
Produzida por motivos
“atuais”, não dependendo estritamente de fatores psicológicos, mas também de
fatores biológicos (acúmulo de toxinas sexuais), compõem:
a)
Neurose de angústia – libido estancada (coito
interrompido).
b)
Neurastenia – excessiva descarga de substâncias
sexuais (exagero masturbação).
c)
Hipocondria – representada atualmente no núcleo
da esquizofrenia.
Neurose
de Angústia
ü
Transtorno clínico manifesto pela angústia livre (permanente ou em
crises), expressando-se por:
a)
Equivalentes somáticos – opressão pré-cordial,
taquicardia, dispneia suspirosa, sensação de “bola no peito”.
b)
Indefinida e angustiante sensação do medo de que
possa vir a morrer, enlouquecer ou a iminência de uma tragédia.
ü
Diferença entre ansiedade e angústia:
a) Ansiedade
– desejo desmedido, descompensação da harmonia psíquica interna. Pode ser uma
ansiedade latente (não visível).
b) Angústia
– estreitamento, apertamento, sintomas que emergem e ficam livremente
manifestos.
Diferença entre Neurose Atual e
Neurose de Angústia
ü
Neurose Atual: incapacidade de processar um
excesso de estímulos (masturbação mal dirigida) que escoarão por outras vias,
como a fisiologia orgânica.
ü
Neurose de Angústia: manifestação sintomática de
uma angústia livre, resultante da ameaça de que os primitivos desejos
inconscientes retornem à consciência.
Fobias
Combinação de
pulsões, fantasias, angústias, defesas do ego e identificações patógenas
podendo determinar no sujeito uma estruturação de natureza fóbica.
ü
Pode ser multideterminada;
ü
Pode variar de um indivíduo para outro em
intensidade e qualidade;
ü
Configuram-se clinicamente com uma ampla gama de
possibilidades, das mais simples as mais complicadas, a ponto de serem
incapacitantes e paralisantes:
a)
Traços fóbicos na personalidade (p. ex.
inibições);
b)
Caracterologia fóbica (p. ex. modalidade
evitativa de conduta, estilo típico de comunicação e lógica);
c)
Neurose fóbica;
d)
Psicose fóbica.
ü
Pode ser uma manifestação única, porém, por se
apresentar como sintoma isolado estar associado a outras configurações, como
histéricas e, principalmente obsessivas e as paranóides (primas-irmãs).
ü
Diagnóstico diferencial: necessário entre as
fobias, pois vêm acompanhadas por uma intensa angústia-pânico (como síndrome do
pânico).
a) Consiste
a circunstância (objeto, local, alguma cena...) bem determinada, bastando
evitá-la para que a angústia cesse.
b) Enquanto
no transtorno do pânico é mais difícil correlacionar à origem da angústia.
c) É
importante diferenciar estes quadros clínicos, pois a síndrome do pânico
costuma dar resposta positiva ao uso da farmacoterapia.
d) O
DSM-IV situa as fobias entre os Transtornos de Ansiedade.
ü
Origem segundo teóricos:
a) Freud:
originária da fase fálica-edípica, com o “complexo de castração” (p. ex. Caso
pequeno Hans).
b) M.
Mahler e cols: radicada na fase anal (processos de separação e individuação).
c) Melanie
Klein: fixação na fase evolutiva do sadismo oral canibalístico, com a
respectiva projeção dos primitivos objetos aterrorizantes sobre o espaço
exterior, que transforma-se em fobígeno.
ü
Causas:
a) Ansiedade
de aniquilamento e desamparo;
b) Simbolização
e deslocamento da ansiedade, como uma cadeia de significantes, que estabelece
um significado fóbico (medo do escuro com o medo de perder a mãe);
c) Relação
simbiótica com a mãe, com decorrente prejuízo nas fases de
separação-individuação. Na prática clínica percebe-se a persistência desse
vínculo (real ou internalizado), correlato a figura do pai desvalorizada ou
excluída, principalmente a partir do discurso da mãe;
d) A
patologia na fase separação-individuação promove dupla ansiedade: a de
engolfamento (chegar perto demais e absorver ou ser absorvido) e a de separação
(risco imaginário de perder o objeto). Sendo característico da fobia, a pessoa
criar um delimitado e restrito espaço fóbico para movimentar-se.
e) Identificação
da criança com a fobia dos pais: podendo atribuir à criança, o papel de proteger
a fobia de solidão dos pais, ou o tipo de discurso repleto com os respectivos
significados fóbicos. Refletindo uma carga de identificações projetivas dos
temores dos pais na mente da criança. Esta ação fobigênica dos pais depende do
grau de insuficiência das funções do ego da criança e também de um conhecimento
prévio quanto ao medo ser uma ameaça real, ou estar fora de proporção.
ü
Características Clínicas
a) Estados
fóbicos vêm acompanhados de manifestações paranóides e obsessivas e encobrem
uma depressão subjacente.
b) Má
elaboração das pulsões agressivas.
c) Tendência
há manifestações psicossomáticas.
d) Uso
de uma “técnica de evitação” de todas
as situações que lhe pareçam perigosas, uma vez que, a situação exterior
fobígena é o cenário onde estão sendo projetados, deslocados e simbolizados os
aspectos dissociados das pulsões e objetos internos, representados no ego como
perigosos.
e) “Técnica de dissimulação” até o nível de
um falso self, tal é o seu grau de culpa, vergonha e humilhação diante de seus
temores ilógicos.
f) Muitas
vezes a fobia não aparece e só pode ser detectada pelo seu oposto, isto é, sua
conduta contrafóbica.
g) Em
certas fobias (claustrofóbicas; agorafóbicas) existe a escolha de pessoas que
prestem o papel de “acompanhantes” e de continuadores da mesma fobia. Causa
pela qual, determinadas características fóbicas em certas famílias perpetuam-se
por gerações.
h) Na
situação analítica costuma ocorrer que, o paciente fóbico mantenha a técnica da regulação da distância afetiva
com o terapeuta, de modo a não ficar tão próximo (risco de ser engolfado), e
nem tão longe (risco de perder o vínculo) e o necessitado analista. Podendo
faltar regularmente ou outras formas de resistência, com possibilidade de que
faça um tratamento descontinuado.
Neurose
Obessivo-compulsiva
ü
No DSM-IV enquadra-se como Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC).
ü
Diz respeito à forma e ao grau como se organizam
os mecanismos defensivos do ego diante de fortes ansiedades.
ü
É necessária uma discriminação entre os
seguintes estados:
a)
Traços
obsessivos em uma pessoa normal ou acompanhante de uma neurose mista, uma psicose,
perversão, etc;
b)
Caráter
marcadamente obsessivo;
c)
Neurose
obsessivo-compulsiva.
ü
Obsessão: referem-se
a pensamentos como corpos estranhos,
que infiltram-se na mente e atormentam o indivíduo.
ü
Compulsão:
designa os atos motores que o
neurótico executa como uma forma de contra-arrestar a pressão dos referidos
pensamentos.
ü
Causas
a)
Pais que impuseram um superego por demais rígido
e punitivo.
b)
Exagerada carga de agressão que o ego não
conseguiu processar e, igualmente, uma falha na capacidade do ego na função de
síntese e discriminação das permanentes contradições que atormentam o
obsessivo.
c)
Conflito intra-sistêmico
(o ego está submetido ao superego cruel e está pressionado pela demandas
enérgicas do id).
d)
Importância da defecação para a criança, com as
respectivas fixações anais que se organizam em torno destas fantasias, que
representam um importante fator de estruturação do psiquismo.
ü
Características clínicas
a)
Existe uma ambiguidade e ambivalência do sujeito
obsessivo, de um lado, ele sente o seu ego submetido a um superego tirânico, e
ao mesmo tempo, ele quer tomar posição contra
esse superego e da livre vazão ao id.
b)
Esse conflito entre as instâncias explica os
sintomas de organização, limpeza, disciplina, escrupulosidade e afins.
c)
Pode manifestar dois perfis caracterológicos:
sob uma forma passiva (corresponde a fase anal retentiva) e outro de natureza
ativa (corresponde a fase anal expulsiva).
d)
O “passivo
submetido” apresenta uma necessidade
enorme de agradar (não desagradar) a todas as pessoas, devido à ansiedade em
poder magoar ou vir a perder o amor delas.
e)
O “ativo
submetedor” resulta em um processo de identificação com o agressor, adquire
características de exercer um controle sádico sobre os outros, ao qual ele quer
impor as suas verdades.
f)
Em ambos há a presença de pulsões agressivas,
mal resolvidas, um superego rígido ante a sua desobediência, e um ideal do ego
cheio de expectativas a serem cumpridas, mantendo em um continuado estado de
culpa.
g)
Os mecanismos
de defesa mais utilizados são os de anulação
(desfazer aquilo que já foi feito), isolamento
(isolar o afeto da ideia), formações
reativas (negar os sentimentos que lhe despertam ansiedade), racionalização e intelectulização.
h)
Se falham as defesas aparecem extratos mais
primitivos da mente e que podem provocar soluções fóbicas, paranóides ou
perversas.
i)
As escolhas de suas relações objetam buscam
fazer a complementação: de relação tipo dominador x dominado; ativo x passivo;
sádico x masoquista.
j)
A obsessividade
narcisista o sujeito exibe uma superioridade
disfarçada sob uma capa de modéstia.
k)
Encaram a sexualidade do ponto de vista da analidade
(fase anal) como: cuidados com a limpeza, assepsia, sentimento de ser
propriedade ou proprietário, controle do orgasmo e exagerados escrúpulos em
usar recursos orais e anais.
l)
Na situação analítica o risco é que o paciente
consiga fazer prevalecer o seu controle, sobre si mesmo e sobre o terapeuta,
pelo uso de mecanismos defensivos:
·
Controle onipotente – deixa o processo analítico
estagnado;
·
Deslocamento – detalhes que se tornam
enfadonhos, podem provocar uma contratransferência de tédio;
·
Anulação – discurso de “é isso mas também pode
ser aquilo”;
·
Formação reativa – paciente não deixa irromper a
sua agressão reprimida;
·
Isolamento – em narrativas desprovidas de emoção.
m) É
fácil o terapeuta perceber o quanto o “ideal do ego” se constitui como tirano
do paciente obsessivo, forçando-o a uma idealização
da perfeição e adotar um estilo de pessoa excessivamente lógica.
n)
O cuidado do analista de não se deixar equivocar
pela colaboração irretocável desse paciente, que costuma ser obsessivamente
correto, assíduo, pontual, associa livremente, bom pagador, boa apresentação e
vida profissional geralmente bem resolvida.
o)
Existe a possibilidade de que o analisando
esteja “cumprindo a tarefa” do que propriamente alguém disposto a fazer
mudanças.
p)
É necessário observar o destino que as
interpretações tomam, se elas germinam ou ficam desvitalizadas. Um bom recurso
é fazer um permanente confronto para o paciente entre o que ele diz, sente e de
fato, faz.
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