O
encontro reflexivo como prática psicoeducativa: Uma perspectiva fenomenológica.
Heloisa Szymanski e Luciana
Szymanski.
Encontro Reflexivo: atividade grupal
que busca soluções e alternativas para questões comuns e significativas da
existência humana.
1. Introdução: Situando a prática
·
Kurt Lewin – Teoria de Campo
a.
Prática de pesquisa-ação oportunidade de
desenvolver um projeto de atenção psicoeducativa.
b.
A mudança de modos de agir arraigados tem maior
probabilidade de ocorrer quando os próprios membros do grupo trazem sua
experiência e argumentos para a mudança.
c.
Técnicas de dinâmica de grupo podem ser
poderosos instrumentos.
d.
Valorização das escolhas grupais – independência
no processo de tomada de decisões.
·
Jacob Levy Moreno – Estudos de pequenos grupos:
a.
Construção de um saber baseado na troca de
experiências.
b.
Imitação – oportunidade de recapitular problemas
não resolvidos dentro de um ambiente social mais livre, mais amplo e flexível
(situações familiares “como se” vivenciar possíveis saídas).
·
Fenomenologia Existencial:
a.
Escuta voltada para a compreensão da experiência
do outro tal como é narrada por ele, e o cuidado de não interpretá-la à luz de
idéias pré-concebidas, sejam teóricas ou não.
b.
Arte da compreensão – correção contínua de
compreensão, avaliar continuamente as próprias “opiniões prévias”.
c.
Cuidado com as palavras, a fidelidade ao que foi
dito pelos interlocutores e o aprofundamento de seu sentido.
·
Paulo Freire – Dialógica:
a.
Valorização da autonomia.
b.
Diálogo – concretiza-se no encontro entre
homens, que articula ação e reflexão, visando construir um mundo cada vez mais
humanizado.
c.
Articulação entre a teoria e a experiência
profissional - movimento dialético entre o fazer e pensar sobre o fazer.
2. Encontro: O que é isto?
·
Encontro - palavra tão simples e presente em
nossa fala cotidiana e com tantos significados. Lado “pacífico” união,
descoberta, invenção, de consciência, alcançar algo ter uma experiência e por
outro “agressivo e hostil” embate, confronto, disputa.
·
Co-construir uma situação dialógica e transformadora,
mas com consciência que esse processo não ocorre sem conflitos, mediações e
superações que propiciam soluções novas para as questões trazidas pelos
protagonistas.
·
Ambiente propício para se narrar experiências,
ouvir a si mesmo, o outro, reconhecer o impacto das próprias idéias no outro,
entre pessoas que vivem situações semelhantes.
·
Encontro grupal favorece a lembrança,
reinterpretações, comparações e o resultado é uma produção conjunta, uma
criação.
·
Facilita a construção de novos caminhos para as
questões debatidas, são possibilidades e não garantia de que tais processos
ocorram de fato.
3. Aspectos éticos
·
Não expor participante a situações em que ele
possa vir a ser julgado ou discriminado.
·
Que os resultados sejam sempre uma produção grupal
e que todas as contribuições sejam consideradas.
·
Compromisso do sigilo/Presença livre/ Escuta
atenta e respeito a diferentes valores estimulado/Imposição de idéias e
intolerância desencorajado.
4. Momentos do encontro reflexivo (procedimentos
e fundamentos teóricos)
4.1. Planejamento
·
Compreender
a demanda - análise prévia da própria compreensão do tema (envolve nossas
experiências no mundo). Cuidado para não iniciarmos um trabalho com
pré-julgamentos.
·
Definir
claramente os objetivos – é fundamental ater-se aos objetivos para evitar
que o grupo caia num tom confessional ou no mero palavrório, perdendo, seu
caráter psicoeducativo ou de mudança. São os objetivos que dirigem a escolha
dos procedimentos (trabalho e não lazer) não impede o lúdico e prazeroso.
·
Delinear
claramente cada momento do Encontro Reflexivo – descrição das atividades e
as questões desencadeadoras nas diferentes etapas. Perguntas apresentadas aos
participantes têm muita importância:
a.
Possibilitar lembranças, relatar experiências e
refletir sobre elas;
b.
Colocar possibilidades e mantê-las em aberto;
c.
Consideração dos próprios preconceitos e da
disponibilidade para ouvir o outro;
d.
Arte de perguntar – arte de pensar – conduzir
uma verdadeira conversação.
e.
Estimular narrativas – faculdade de intercambiar
experiências. Desencadeiem lembranças e não meras “explicações” ou “teorias”.
4.2. Fase Preparatória
·
Associar o que foi vivenciado (tirar do
esquecimento lembranças) pelos participantes ao tema que se vai tratar.
·
Envolver atividades conjuntas que envolvam o
corpo, como movimentos, jogos, desenhos, colagens, dramatizações, atividades de
construção de algo – apresentam viés lúdico, podem “aquecer” o grupo, entrosar,
relaxar, mas servem para despertar lembranças significativas em relação ao tema
tratado.
·
As
lembranças não chegam como meras recordações de fatos, mas “mostram” como tais
fatos afetaram cada um.
·
Deve começar com uma atividade de apresentação,
caso eles não se conheçam.
·
Tomar precauções no sentido de evitar expor o
grupo a atividades com as quais possa não se sentir à vontade – importante
colher informações sobre o grupo.
4.2.1. Os momentos da fase preparatória
·
Após a apresentação, os objetivos devem ser
explicitados, reportando-se à demanda feita anteriormente pelo grupo de
participantes.
·
Se for parte de uma pesquisa, é quando o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido deve ser apresentado.
·
Algumas questões desencadeadoras devem ser
feitas – com o objetivo de aproximação ao tema.
·
Oportunidade de iniciar as narrativas de
experiências sobre o tema ao falar de situações vividas. Cabe ao coordenador do
grupo lembrar que não é o momento de buscar “explicações” e “teorias”, mas de
lembrar como ocorreu e que sentimentos e pensamentos ocorreram.
·
Conversa inicial serve aos participantes tomarem
conhecimento dos objetivos do encontro e começarem a apropriar-se do tema.
·
Depois de alguns relatos, sugere-se uma
atividade grupal associada ao tema do encontro.
·
“Colocar em palavras” os sentimentos,
pensamentos e dúvidas e reminiscências que a atividade provocou no grupo.
4.3. Reflexão focada na demanda
·
Neste momento focaliza-se a demanda com um olhar
acrescido da experiência vivida e com as experiências dos demais membros do
grupo a respeito do tema.
·
Tira-se do especialista a exclusividade do saber
e parte-se para a co-construção de um conhecimento.
·
São apresentadas as questões desencadeadoras,
preparadas durante o planejamento. É importante que todos tenham a oportunidade
de contar sua experiência (grupos grandes divide-se em subgrupos e um relator)
e reflitam sobre:
a.
O que desejavam ao fazer sua intervenção;
b.
Que atitude escolheram tomar;
c.
O que aconteceu na situação que poderia tê-la
tornado bem sucedida.
4.4. Síntese Final
·
Ouvem-se os relatos do grupo, anotam-se as
semelhanças e as particularidades e elabora-se a resposta surgida no grupo,
após todas as atividades.
·
O processo de compreensão é acompanhado pelos
momentos de reflexão (quando são apresentadas as narrativas da experiência
vivida; durante os pequenos grupos e na síntese final). Deve ser feita de
maneira cuidadosa – talvez seja mais fácil começar a dizer como se compreende
essa reflexão apontando o que ela não é: uma interpretação causal, teórica, um
julgamento ou avaliação. Ela pode ser descrita como:
a.
Um retorno que se dá ao interlocutor da própria
compreensão;
b.
Usando o máximo possível de suas palavras;
c.
Buscando uma conversação;
d.
Cuja finalidade é chegar a um acordo.
5. Considerações finais
·
Encontro da compreensão que trazemos do passado
com que se mostra no presente.
·
Conversação que busca chegar a um acordo entre
os protagonistas.
·
É fundamental o profissional ou pesquisador
explicite para si mesmo e equipe as suas idéias anteriores a respeito da
questão demandada pelo grupo. O conhecimento prévio (não ficar preso a este)
sobre o tema é o ponto de partida para desenvolvermos uma compreensão
posterior.
·
Parte da atitude a abertura está à interrogação,
que não se dirige somente ao outro, mas a si mesmo.
·
A reflexividade é central – as compreensões são
expressas pelos participantes e profissionais e relacionadas em um movimento
contínuo de construção.