25 de set. de 2015

Resumo - O encontro reflexivo como prática psicoeducativa.

O encontro reflexivo como prática psicoeducativa: Uma perspectiva fenomenológica.
Heloisa Szymanski e Luciana Szymanski.

Encontro Reflexivo: atividade grupal que busca soluções e alternativas para questões comuns e significativas da existência humana.

1.   Introdução: Situando a prática
·         Kurt Lewin – Teoria de Campo
a.    Prática de pesquisa-ação oportunidade de desenvolver um projeto de atenção psicoeducativa.
b.    A mudança de modos de agir arraigados tem maior probabilidade de ocorrer quando os próprios membros do grupo trazem sua experiência e argumentos para a mudança.
c.    Técnicas de dinâmica de grupo podem ser poderosos instrumentos.
d.    Valorização das escolhas grupais – independência no processo de tomada de decisões.

·         Jacob Levy Moreno – Estudos de pequenos grupos:
a.    Construção de um saber baseado na troca de experiências.
b.    Imitação – oportunidade de recapitular problemas não resolvidos dentro de um ambiente social mais livre, mais amplo e flexível (situações familiares “como se” vivenciar possíveis saídas).

·         Fenomenologia Existencial:
a.    Escuta voltada para a compreensão da experiência do outro tal como é narrada por ele, e o cuidado de não interpretá-la à luz de idéias pré-concebidas, sejam teóricas ou não.
b.    Arte da compreensão – correção contínua de compreensão, avaliar continuamente as próprias “opiniões prévias”.
c.    Cuidado com as palavras, a fidelidade ao que foi dito pelos interlocutores e o aprofundamento de seu sentido.

·         Paulo Freire – Dialógica:
a.    Valorização da autonomia.
b.    Diálogo – concretiza-se no encontro entre homens, que articula ação e reflexão, visando construir um mundo cada vez mais humanizado.
c.    Articulação entre a teoria e a experiência profissional - movimento dialético entre o fazer e pensar sobre o fazer.

2.   Encontro: O que é isto?
·         Encontro - palavra tão simples e presente em nossa fala cotidiana e com tantos significados. Lado “pacífico” união, descoberta, invenção, de consciência, alcançar algo ter uma experiência e por outro “agressivo e hostil” embate, confronto, disputa.

·         Co-construir uma situação dialógica e transformadora, mas com consciência que esse processo não ocorre sem conflitos, mediações e superações que propiciam soluções novas para as questões trazidas pelos protagonistas.

·         Ambiente propício para se narrar experiências, ouvir a si mesmo, o outro, reconhecer o impacto das próprias idéias no outro, entre pessoas que vivem situações semelhantes.

·         Encontro grupal favorece a lembrança, reinterpretações, comparações e o resultado é uma produção conjunta, uma criação.

·         Facilita a construção de novos caminhos para as questões debatidas, são possibilidades e não garantia de que tais processos ocorram de fato.

3.   Aspectos éticos
·         Não expor participante a situações em que ele possa vir a ser julgado ou discriminado.
·         Que os resultados sejam sempre uma produção grupal e que todas as contribuições sejam consideradas.
·         Compromisso do sigilo/Presença livre/ Escuta atenta e respeito a diferentes valores estimulado/Imposição de idéias e intolerância desencorajado.

4.   Momentos do encontro reflexivo (procedimentos e fundamentos teóricos)
4.1. Planejamento
·         Compreender a demanda - análise prévia da própria compreensão do tema (envolve nossas experiências no mundo). Cuidado para não iniciarmos um trabalho com pré-julgamentos.
·         Definir claramente os objetivos – é fundamental ater-se aos objetivos para evitar que o grupo caia num tom confessional ou no mero palavrório, perdendo, seu caráter psicoeducativo ou de mudança. São os objetivos que dirigem a escolha dos procedimentos (trabalho e não lazer) não impede o lúdico e prazeroso.
·         Delinear claramente cada momento do Encontro Reflexivo – descrição das atividades e as questões desencadeadoras nas diferentes etapas. Perguntas apresentadas aos participantes têm muita importância:
a.    Possibilitar lembranças, relatar experiências e refletir sobre elas;
b.    Colocar possibilidades e mantê-las em aberto;
c.    Consideração dos próprios preconceitos e da disponibilidade para ouvir o outro;
d.    Arte de perguntar – arte de pensar – conduzir uma verdadeira conversação.
e.    Estimular narrativas – faculdade de intercambiar experiências. Desencadeiem lembranças e não meras “explicações” ou “teorias”.

4.2. Fase Preparatória
·         Associar o que foi vivenciado (tirar do esquecimento lembranças) pelos participantes ao tema que se vai tratar.
·         Envolver atividades conjuntas que envolvam o corpo, como movimentos, jogos, desenhos, colagens, dramatizações, atividades de construção de algo – apresentam viés lúdico, podem “aquecer” o grupo, entrosar, relaxar, mas servem para despertar lembranças significativas em relação ao tema tratado.
·          As lembranças não chegam como meras recordações de fatos, mas “mostram” como tais fatos afetaram cada um.
·         Deve começar com uma atividade de apresentação, caso eles não se conheçam.
·         Tomar precauções no sentido de evitar expor o grupo a atividades com as quais possa não se sentir à vontade – importante colher informações sobre o grupo.

4.2.1.   Os momentos da fase preparatória
·         Após a apresentação, os objetivos devem ser explicitados, reportando-se à demanda feita anteriormente pelo grupo de participantes.
·         Se for parte de uma pesquisa, é quando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido deve ser apresentado.
·         Algumas questões desencadeadoras devem ser feitas – com o objetivo de aproximação ao tema.
·         Oportunidade de iniciar as narrativas de experiências sobre o tema ao falar de situações vividas. Cabe ao coordenador do grupo lembrar que não é o momento de buscar “explicações” e “teorias”, mas de lembrar como ocorreu e que sentimentos e pensamentos ocorreram.
·         Conversa inicial serve aos participantes tomarem conhecimento dos objetivos do encontro e começarem a apropriar-se do tema.
·         Depois de alguns relatos, sugere-se uma atividade grupal associada ao tema do encontro.
·         “Colocar em palavras” os sentimentos, pensamentos e dúvidas e reminiscências que a atividade provocou no grupo.

4.3. Reflexão focada na demanda
·         Neste momento focaliza-se a demanda com um olhar acrescido da experiência vivida e com as experiências dos demais membros do grupo a respeito do tema.
·         Tira-se do especialista a exclusividade do saber e parte-se para a co-construção de um conhecimento.
·         São apresentadas as questões desencadeadoras, preparadas durante o planejamento. É importante que todos tenham a oportunidade de contar sua experiência (grupos grandes divide-se em subgrupos e um relator) e reflitam sobre:
a.    O que desejavam ao fazer sua intervenção;
b.    Que atitude escolheram tomar;
c.    O que aconteceu na situação que poderia tê-la tornado bem sucedida.

4.4. Síntese Final
·         Ouvem-se os relatos do grupo, anotam-se as semelhanças e as particularidades e elabora-se a resposta surgida no grupo, após todas as atividades.
·         O processo de compreensão é acompanhado pelos momentos de reflexão (quando são apresentadas as narrativas da experiência vivida; durante os pequenos grupos e na síntese final). Deve ser feita de maneira cuidadosa – talvez seja mais fácil começar a dizer como se compreende essa reflexão apontando o que ela não é: uma interpretação causal, teórica, um julgamento ou avaliação. Ela pode ser descrita como:
a.    Um retorno que se dá ao interlocutor da própria compreensão;
b.    Usando o máximo possível de suas palavras;
c.    Buscando uma conversação;
d.    Cuja finalidade é chegar a um acordo.

5.  Considerações finais
·         Encontro da compreensão que trazemos do passado com que se mostra no presente.
·         Conversação que busca chegar a um acordo entre os protagonistas.
·         É fundamental o profissional ou pesquisador explicite para si mesmo e equipe as suas idéias anteriores a respeito da questão demandada pelo grupo. O conhecimento prévio (não ficar preso a este) sobre o tema é o ponto de partida para desenvolvermos uma compreensão posterior.
·         Parte da atitude a abertura está à interrogação, que não se dirige somente ao outro, mas a si mesmo.

·         A reflexividade é central – as compreensões são expressas pelos participantes e profissionais e relacionadas em um movimento contínuo de construção.

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